" Arrancaram-no inesperadamente dos meus braços "
– dizia ele. Sentia-se perdido, desprotegido, mas acima de tudo, sentia que
faltava uma parte do seu corpo e do seu ser. Rendido e sustentando todo o seu peso
sobre os joelhos, olhava sem limite o espaço tentando perceber o que tinha
acontecido. O perfume dele permanecia no ambiente e era o único sinal de que
não estava a imaginar a possibilidade de uma alma perfeita e que voltava a
fazer tilintar o seu coraçãozinho, ser real. Abraçou-se a si próprio para minimizar
a mágoa da partida dele. Se ao menos ele tivesse tido o cuidado de anunciar aos
seus afectos que tudo acabaria desta maneira
... Sem uma nova oportunidade, sem um adeus. " Envolvi-me
demasiado. " - pensou ele para si próprio. Apaixonei-me irremediavelmente,
causando a sua partida e ausência repentina e brutal de palavras. Sentia que
era demasiado tarde, mas fez o que o coração lhe ordenou quando, por um mero
acaso, os seus olhos identificaram-no numa tarde de verão. Revestindo-se de uma coragem que nunca antes tinha sentido e decretou as palavras
a medo. Prometeu a si mesmo, guardando as lágrimas que nunca chora mas que
neste inoportuno momento queriam tanto surgir, ser a última vez que lhe dirigia
a palavra. Eram vocábulos hesitantes e indecisos do momento, completamente
amedrontados mas precisava urgentemente de arrancá-los do seu interior. Ele foi
extremamente ‘calado’ em palavras, mal lhe dirigia a palavra. Falava com o seu
« amigo » e nada mais. Ele teve consciência que era, provavelmente, a última
vez que o veria. Absorveu o máximo que conseguiu da sua essência almiscarada, o
seu aroma soporífero a perfume e tabaco. Decorou cada pormenor do seu corpo,
desde a forma como se sentara num cadeira qualquer até á maneira como manuseava
o telemóvel ,desde a forma diferente e própria das suas másculas mãos, até aos
fios do seu cabelo. Apercebeu-se tarde demais que só o olhou nos olhos uma
única vez. Ouviu todas as suas razões, disse ao seu coração para sossegar, que
era tudo apenas uma questão de tempo... mas teve demasiado medo de ver nos seus
olhos uma verdade diferente: Um futuro em que ele, impreterivelmente, não fazia
parte da vida dele. Afastou-se lentamente dele e deixou finalmente as lágrimas
deslizarem pela sua face.
- É incrivel como nos
magoamos com as atitudes dos outros.
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